terça-feira, janeiro 06, 2009

Que é quem na guerra, Israel x Palestina

UM VERMELHO-E-AZUL COM JANIO DE FREITAS Do Tio Rei
No post abaixo, reproduzo, praticamente sem comentários, um texto de João Pereira Coutinho, por mim classificado de “gênero didático”. Não há ali grande dificuldade interpretativa. E, como se pode notar, a opinião do colunista coincide essencialmente com a deste escriba. Neste post, segue um texto de Janio de Freitas, também na Folha de hoje. Este já requer um vermelho-e-azul. Não tem nada de didático. E o que vai nele de importante se esconde em sinuosidades que precisam ser desdobradas. A ele. A boa companhia À parte considerações religiosas e étnicas, uma razão forte justificou a criação do Estado de Israel e explica a defesa necessária de sua continuidade: a derrota do nazismo encerrou o paroxismo homicida a que chegara o preconceito antijudeu, mas não encerrou o preconceito. Instituído por não-judeus, o Estado de Israel é fruto de uma razão humanitária, grandeza mais rara do século passado. Não fica exatamente claro — e caberá ao leitor escolher — de que preconceito remanescente fala Janio de Freitas. Mas isso é o de menos agora. Observem que o “nazismo” aparece ligado à criação do estado judeu. Observei num texto de ontem, vocês se lembram, que, sempre que Israel se defende do terror, o Holocausto costuma ser invocado CONTRA os judeus, como se a tragédia passada devesse tornar esse povo especialmente tolerante com as agressões presentes. Nesse estrito sentido, ao judeu só cabe o papel de vítima e de protegido por nossa piedade, jamais de senhor do próprio destino. Adiante. A compreensão desta preliminar essencial é, porém, relegada ou recusada por uma corrente muito ampla dos judeus de fora de Israel. É própria dessa corrente, por isso, a investida contra qualquer observação em desacordo com a política externa dos governos de Israel, um após o outro. Ocorre que tal política é influenciada por fundamentalismos e pelo que há de mais reprovável na classe dos políticos em qualquer parte. O que Janio chama de “política externa”? Em 1967, quando os países árabes tentaram varrer Israel do mapa, a reação pôde ser classificada de “política externa”? Ao combater o terrorismo, é na relação com os vizinhos que está a pensar o país ou na mais comezinha das questões internas: a própria sobrevivência? Observem também que o colunista volta a tanger a corda de um velho preconceito: uma espécie de “conspiração” dos judeus fora de Israel — costuma-se dizer, nos círculos anti-semitas, “judeus de Nova York”. Seriam eles os verdadeiros “radicais”, e não os judeus, digamos, autênticos, que moram no país. Assim, Janio os separa em bons e maus judeus, em judeus da paz e judeus da guerra. Fico intelectualmente comovido ao notar a sua censura ao “fundamentalismo”. Ele se refere, como é visível, ao “fundamentalismo” judaico. Sobre o islâmico, nem uma miserável palavra de censura, nada! Continuemos... O que a leva, nos seus momentos de maior autenticidade, a ferir, muito fundo, o mesmo humanitarismo que proporcionou a criação e considera necessária a continuidade, de fato e de direito, do Estado de Israel. Como separei o parágrafo, o leitor pode ter alguma dificuldade. Releia o vermelhinho do bloco anterior em conjunto com o que está acima. Você vai notar que, segundo Janio, a ação presente de Israel fere a razão essencial que resultou na sua criação: a questão humanitária. Fica-se, então, assim: o mundo, por uma questão humanitária, deu aos judeus um estado. Isso deveria fazer com que esse povo fosse eternamente, sei lá, grato... Uma das formas de expressar essa gratidão seria jamais reagir a ataques — ou fazê-lo de um modo único, particular (afinal, demos a eles aquele presente...). Até agora, notem, não há uma única palavra de censura ao terrorismo islâmico. E é preciso dar destaque à lógica torta do trecho: a “continuidade” de Israel seria ameaçada por sua política de defesa, não pelos inimigos que tentam destruí-lo. Janio descobriu, enfim, por que aquele país enfrenta, há 61 anos, adversários mortais: é porque não se rende a eles... Genial! A alternativa que as pressões e os consequentes temores propõem, sobretudo a governantes e jornalistas, é simples: silenciar a crítica ou ver-se equiparado, em algum grau, aos extremistas do preconceito. Mas silenciar é equiparar-se aos hoje condenados, moralmente, porque o fizeram quando os perseguidos e massacrados eram os judeus. A construção pode parecer um tanto confusa, mas a essência moral é clara. JANIO ESTÁ AFIRMANDO QUE AS RAZÕES QUE LEVARAM OS HUMANISTAS A SE REVOLTAR CONTRA A POLÍTICA NAZISTA DE EXTERMÍNIO DOS JUDEUS SÃO AS MESMAS QUE MOVEM HOJE OS CRÍTICOS DE ISRAEL. Logo, para Janio, a relação Israel-palestinos é similar à relação nazista-judeus. Assim, Israel estaria praticando (o que ele já sustentou em outro texto) nada menos do que genocídio. A alternativa, diz, é o silêncio (sob o risco de ser acusado de partilhar do preconceito antijudeu). Que nada, Janio! Uma das alternativas, por exemplo, é condenar o terrorismo islâmico... O que lhe parece? Quanto ao preconceito antijudeu, creio que a conclusão do seu artigo será bastante reveladora.  A alternativa não é alternativa. Se, aqui e no Ocidente todo, descendentes dos perseguidos e massacrados de ontem querem hoje a aceitação de uma violência desumana, criminosa e covardemente sádica, só cabe ignorar a cobrança dessa conivência tão bem conhecida desde o nazismo. Fica-se em boa companhia. Eis aí. Cantei ontem essa bola. Os judeus devem ser tolerantes com o terrorismo porque, afinal, seus antepassados foram vítimas do nazismo, entenderam? Santo Deus! Diz uma das pesquisas de opinião que a sanha militar dos poderosos israelenses é apoiada (ou era até pouco) por 52% da população. Cá da minha inutilidade, tenho pensado muito em uma das metades do país dividido. Penso com muita pena no que essa metade sofre, impotente, com o que é feito por gente do seu povo, em nome do seu país. A metade que se opõe, que protesta, que se recusa a usar as armas: essa é a boa companhia. É a parte da humanidade no Estado de Israel. Janio só encontra compreensão no que ele chama "uma das metades" de Israel, numa leitura um tanto obtusa da pesquisa — já que o fato de 52% apoiarem a ação militar não implica que os outros 48% a rejeitem totalmente; pode haver matizes aí. Mas digamos que assim seja. O colunista, como se nota acima, sente-se mesmo confortável em meio àquela metade imaginária na qual ele diz pensar “com pena”, aquele grupo que “sofre impotente”. Ah, aqueles, sim, são os bons judeus! Um bom judeu permite que a gente sinta pena dele!
Na hora da escolha, como se vê, o articulista prefere os judeus derrotados. Nem que seja por outros judeus. Ele tem razão: a criação do estado de Israel "não encerrou o preconceito".

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