quarta-feira, julho 29, 2009

Esterilização Humana - O poder da posteridade

Todo dia, eu entro em um blog chamado Marginal Revolution, que é famoso por seus autores eruditos, Tyler Cowen e Alex Tabarrok, e seus inteligentes colaboradores. Na semana passada, um desses colaboradores fez uma pergunta fantástica, apesar de provocante: o que aconteceria se um evento solar maluco esterilizasse as pessoas na metade da Terra que estivesse sob a luz do sol?

Se você olhar por um lado individualista do mundo, imediatamente não aconteceria muita coisa. Há milhões de pessoas hoje que não se reproduzem e levam uma vida feliz, bem-sucedida e produtiva.

Mesmo após o evento, as condições materiais seriam as mesmas. As pessoas ainda teriam o incentivo de ir ao trabalho, pagar suas contas e educar os filhos que já tinha. Por 20 anos, ainda haveria trabalhadores fluindo na força de trabalho. Imigrantes de um lado da Terra, de vez em quando, surgiriam nas áreas com diminuição da população. Na verdade, a esterilização em massa reduziria a pressão sobre o meio-ambiente no planeta. Pessoas se concentrariam em viver o momento, valorizando o aqui e o agora.

Mas é claro que nós não levamos vidas individualistas. As condições materiais não conduziriam a história. As pessoas vivem em um meio compacto entre a morte, a vida e aqueles que ainda não nasceram. E o valor desse suposto experimento nos lembraria que o poder da posterioridade permanece sobre nossas vidas.

Dizem que se o hemisfério leste fosse esterilizado, logo haveria uma terrível crise espiritual. Ambos o judaísmo e o cristianismo são religiões centradas em promessas. Elas são baseadas em narrativas que partem do Genesis até a revelação progressiva e a uma culminação gloriosa.

A vida dos crentes tem significado porque eles são parte dessa descoberta gloriosa. Sua fé é coberta de expectativa e esperança. Se eles descobrissem que a morte é o único fim, sentiriam que Deus abandonou, que a vida não tem significado, nem propósito.

O mundo conhecido secularmente também seria destruído. Qualquer coisa que valia a pena fazer constituía o trabalho de gerações – acabar com o racismo, promover a liberdade, construir uma nação. Por exemplo, os fundadores dos EUA sentiram o olhar de seus descendentes sobre eles. Alexander Hamilton sentiu que estava ajudando a criar um grande império. Noah Webster compôs seu dicionário antecipando que, um dia, os EUA teriam 300 milhões de habitantes, mesmo que naquele tempo só tivesse seis milhões.

Essas pessoas se responsabilizaram por seus grandes projetos, porque estavam construindo algo para seus descendentes. Estavam motivados – como líderes, escritores e artistas ambiciosos – por sua fome pela fama eterna.

Sem a posteridade, não há grandes planos. Não há grandes ambições. A política se tornaria insignificante. Mesmo palavras como justiça perderiam o significado, porque tudo seria reduzido a qualidades limitadas do aqui e agora.

Se as pessoas soubessem que sua nação, grupo ou família estivessem condenados a se extinguir, eles não construiriam mais edificações duradouras. Não se esforçariam para começar novas companhias. Não se preocupariam com a preservação do ambiente. Não economizariam, nem investiriam.

Haveria um aumento radical na autonomia individual. Sem sacrifícios pelas crianças de sua própria sociedade, as próprias pessoas seriam crianças, baseando suas vidas no prazer e na tranquilidade dos significados a serem realizados.

Algumas pessoas devem tentar perpetuar sua sociedade ao recrutar pessoas do lado fértil da terra. Mas isso não funcionaria. A imigração é um processo doloroso de deixar para trás uma cultura e uma forma de viver para que seus filhos e netos possam aproveitar um futuro diferente. Ninguém iria querer se responsabilizar pelo processo traumático de se mudar de uma sociedade, que se reproduz, para uma que está desaparecendo. Não haveria as gerações necessárias para assimilar os imigrantes. Uma cultura estéril não poderia ter sucesso e assim não poderia inspirar uma assimilação.

Ao invés disso, haveria uma divisão brutal entre aqueles com o poder de possuir um futuro e aqueles sem. Se milhões de habitantes fossem trazidos, eles habitariam as construções, mas não perpetuariam a cultura. Eles não seriam como os imigrantes de agora, porque não estariam se juntando a um projeto comum, mas sim deslocando o plano de seu lugar original. Não haveria senso de humanidade, nenhuma das afeições intuitivas daqueles que são partes da unidade social orgânica que compartilham do mesmo destino.

Em outras palavras, em semanas, tudo acabaria. A sociedade seria irreconhecível. O cenário é irremediavelmente amargo. Um indivíduo que não tenha filhos ainda contribui totalmente para o futuro da sociedade. Mas quando ela não se reproduz, não há nada com o que contribuir.

Mas, é claro que essa é a beleza dessa estranha questão. Não há manchas solares esterilizantes. Ao invés disso, somos abençoados com o poder disciplinador de nossa posteridade. Apoiamo-nos nessa determinação forte, invisível e desconhecida – esses milhões de pessoas, que ainda não nasceram e que nunca conheceremos, mas que nos dão o dom da nossa forma de viver.

Por DAVID BROOKS Leia mais sobre esterilização

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