terça-feira, setembro 30, 2008

Reinaldo Azevedo denuncia picaretagem de professor da UnB

No país dos petralhas, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo e João Pereira Coutinho viram temas de aula. Vejam o que fizeram conosco

Eu, Diogo Mainardi e João Pereira Coutinho viramos objeto de estudo num curso da UnB, a Universidade de Brasília. Há outros também, como vocês verão. A salada inclui, além de nós três, Padre Vieira, Foucault... Tudo bem com o padre. No caso do careca, pode separar que é briga. Parece que a disciplina se chama “Escrita e Sociedade na América Latina”. Que diabo é isso? Não sei. Não sou latino-americano. Nasci em Dois Córregos (SP) e moro em Higienópolis, em São Paulo. A gente nem nasce nem mora num continente, mas numa cidade. Mais propriamente num bairro, numa família, numa casa... Supor que possa haver alguma unidade ou ainda uma diversidade sistematizável na América Latina já traz, por si, um viés ideológico. Já é uma escolha. Identifico-me mais com os esquilos do Canadá do que com os bolivianos de Evo Morales. Mas aceito ser colocado no mesmo continente mental de Octavio Paz ou de Vargas Llosa... A Aula Cinco chama-se “Mainardi e Azevedo”. Huuummm... Vamos ver o que propõe o mestre. Não descobri o nome. Pouco importa. O bruto é uma legião, como os demônios. Ele, naturalmente, em vermelho. E eu em azul. Acompanhem a que ponto chega a vigarice acadêmica e a desonestidade intelectual. Aula 05 - Mainardi e Azevedo Desculpem o atraso com o qual faço esse post. Normalmente, gosto de disponibilizar as leituras com pelo menos cinco dias de antecedência. Infelizmente, não deu. Já peguei o rebenque na primeira linha. Os nossos irmãos d’além-mar não aceitam o verbo “disponibilizar”. E eu também não. Essa estrovenga só existe no Brasil. Daí que, fosse eu português, já teria me rebelado contra a tal unificação da língua (ver post seguinte). Para terça-feira, leremos os seguintes textos: : Vou embora e Ler não serve pra nada, ambos do Diogo Mainardi; A hora dos analfabetos, de Reinaldo Azevedo e essa entrevista a Mainardi por João Pereira Coutinho Parece muita coisa, mas os textos - fora a entrevista - são todos curtinhos. São quase todos também bem-escritos. Epa! “entrevista a Mainardi”? Não! Entrevista de Mainardi a João Pereira Coutinho. São também diversos. Uns são irônicos; outro, não é. Três são ensaios; um é entrevista. Uns são explicitamente sobre política partidária; outros tratam de outros temas. O Brasil deveria adotar, desde já, o inglês como língua oficial. Ou o alemão. Ambas pedem poucas vírgulas. Já que não conseguimos ensinar português nem a professores que se especializam em analisar “discursos”, o negócio é declarar a impossibilidade de os brazucas assimilarem o português. Tentemos outra. Vejam lá como o professor crava a vírgula entre o sujeito e seu verbo (precedido do advérbio “não”): “outro, não é”. É isto: antes, chegava-se à universidade com algumas deficiências oriundas do ensino médio. Agora, chega-se ao pós-doutorado com deficiências herdadas do primeiro grau... Todos, entretanto, compartilham um ponto: o uso - ora explícito, ora implícito – da cultura (especialmente a de origem européia) como instrumento para legitimar o argumento de cada autor. Hein? Entendi mal, ou o bruto diz isso com certo viés crítico, sugerindo que fazemos muito mal em “usar a cultura” (seja lá o que isso signifique) para “legitimar” os argumentos? Ah, sim: usamos a “cultura européia”!!! Meu Deus, que horror! Em meu texto, citei o “europeu” Platão!!! Julgava que ele pertencesse ao patrimônio da humanidade. Até em Tora-Bora, as cavernas do Afeganistão onde Bin Laden se escondeu, estuda-se Platão. Aliás, o filósofo era chegadito em vários tipos de caverna, como todos os seus pupilos puderam constatar... Em suas leituras, gostaria que mantivessem as seguintes perguntas em mente: nesses textos, o que pode ser dito entre a relação que cada autor constrói entre Hein? O quê? Que língua é essa? “O que pode ser dito entre a relação que cada autor constrói entre”... Porca miséria! O Brasil acabou! Vamos ver o que ele pede que os alunos analisem: 1) valores letrados como cultura, escrita, inteligência e bagagem cultural Embora tudo seja muito tosco, está induzindo os estudantes a nos caracterizar como elitistas. Pô, desculpo-me com os estudantes da UnB. Eu, com efeito, defendo os “valores letrados”. 2) sua própria legitimidade como ideólogo e comentarista da realidade brasileira? Que mané ideólogo o quê... Eu estou cantando e andando para o que pensam a meu respeito. Quem precisa de legitimidade é homem público. Eu escrevo porque a) posso; b) quero; c) porque me lêem. Mais do que O QUE eles dizem sobre a leitura e a palavra, o que me interessa é COMO as usam como instrumento legitimador. Apesar das múltiplas referências a clássicos, há algum esforço de leitura, alguma tentativa de interpretar ou mesmo comentar um clássico específico? É mesmo um fanfarrão vigarista! Como está disposto a nos atacar — na verdade, induz os estudantes a fazê-lo —, vai logo avisando que pouco importa “o quê” a gente diz. Escolhe uma entrevista e três textos curtos para induzir os alunos a escrever: “Ah, não, fessô... Eles não desenvolveram nada. Vejam o Reinaldo: citou Platão e não escreveu um pequeno tratado sobre Platão.” De agora em diante, para satisfazer a curiosidade do rapaz, vou fazer artigos com notas de rodapé... Talvez as perguntas acima possam ser condensadas em uma: os autores acima citam textos ou citam títulos e nomes famosos? Viram como ele não induz a interpretação dos alunos? Não é mesmo um homem que estimula o pensamento livre? Dada tal pergunta, qual é a única resposta que seus pupilos podem dar? E atenção para o que vem em seguida: a picaretagem assume o estado de arte. Sei que estou sendo ambíguo e talvez um pouco confuso. Preciso ser, pois não quero direcionar suas leituras. Ah, não! Que absurdo supor que ele estaria “direcionando” a leitura dos alunos! De jeito nenhum! Não é formidável? Entregaram uma disciplina aos cuidados de um semiletrado manipulador. E notem que ele diz que sua confusão faz parte do seu esforço didático... Ele ainda não acabou. Mas seria bom prestar dupla atenção a como são empregadas palavras-chave que conotam prestígio (ou estigma) cultural: termos como “analfabeto”, “burro”, “letrado”, “intelectual”, “professor”, “escritor”, “leitura” e “livro” – isso além nomes de autores, citações, nomes de obras, etc. Viram como Diogo, eu e Coutinho somos perigosos? Reparem nas palavras que usamos em nossos respectivos textos. Um horror! Em homenagem ao professor, farei uma crônica empregando “asno”, “grama”, “iletrado”, “antiintelectual”, “picareta”, “vigarista”... E não citarei, naturalmente, um único pensador. Para não fugir do paradigma, ficarei no universo em que orbitam forças da natureza latino-americana como Lula, Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa. Continuo Eis aí o que estão fazendo da universidade brasileira. A ignorância e a boçalidade (tá gostando, mestre?) são postas a serviço da manipulação, da estupidez, da mentira. O curso do sujeito está na Internet. Lá se informa que outros autores são estudados. Cliquei em Padre Vieira para ler a sua introdução. Diz ele aos estudantes: “Vieira sofreu muito. E nem sempre foi popular. Era considerado um traidor por muitos portugueses, pois defendeu a entrega do Nordeste durante a segunda invasão holandesa (1630 a 1654).” Atenção, senhores estudantes da UnB. Ele está mentindo: - Vieira não defendeu “a entrega do Nordeste” aos holandeses. A invasão de Salvador durou apenas um ano (maio de 1624 a maio de 1625). A presença holandesa no Brasil limitou-se a Pernambuco — de fato, Recife e Olinda. Nesse caso, sim, ele chegou a defender um acordo. Mas um de seus sermões trata justamente da expulsão dos holandeses e de por que Deus deveria apoiar os portugueses; - falar em “popularidade” de Vieira é uma consideração asinina. O padre se indispôs com os colonizadores por causa de sua oposição à escravização dos índios e também das críticas que fez à violência contra os negros. - Vieira era jesuíta. E isso significa — vá estudar, criatura! — que era inimigo dos dominicanos, com forte presença na hierarquia da Igreja e na Inquisição. O texto que o professor pede que os alunos leiam é justamente o Sermão da Sexagésima — feito contra os... dominicanos!!! Os problemas de Vieira, pois, nada tiveram a ver com qualquer opinião sua sobre Pernambuco (tampouco “o Nordeste”). Tenho escrito isto aqui há mais de dois anos e sobre o assunto há pelo menos 10: as ciências humanas, na universidade brasileira, são uma verdadeira terra de ninguém. Ou uma terra devastada. O cretinismo que se vê acima é só um exemplo entre milhares. As bobagens que o sujeito diz sobre Vieira são compatíveis com alguém que induz os alunos a criticar três jornalistas porque estes teriam supostamente abusado de referências cultas e elitistas. Como esperar inteligência e precisão de um militante do antiintelecutalismo? E que escreve como quem puxa carroça? Conseqüências Não pensem que esse tipo de estupidez é irrelevante. Os alunos têm espaço para emitir as suas opiniões — e todos, claro!, esculhambaram o Diogo, o Reinaldo e o Coutinho. Quando menos, somos defensores das desigualdades sociais do Brasil, quiçá responsáveis por elas. No meu texto, escrevo: “Não me peçam anuência à tese de que políticos atrapalham o Brasil. Isso é coisa de energúmenos. Os políticos, sob certo ponto de vista, atrapalham todos os países. Platão queria uma República sem poetas na suposição de que eram despidos do necessário senso prático. E os que se pensam especialistas em economia acreditam haver uma contradição essencial entre “a vida como ela é” e a “política”. Coisa de fascistinha cretino ou de comunistinha cretino. Ou de cretino simplesmente. Excesso de opinião. Falta de leitura.” Aí um dos alunos deste genial professor, universitário, terceiro grau, entendeu o seguinte do que escrevi: “No texto de Azevedo, a crítica é generalizada. O problema está no político. Essa figurinha atrapalha o desenvolvimento em qualquer país.” Viram? É apenas o oposto!!! Dizem que exagero quando afirmo que a esquerda inviabiliza o país no médio prazo. Não é exagero, não! É realismo. Eis o país dos petralhas.

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